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Não haverá ação militar do Brasil ou dos EUA na Venezuela, diz Mourão após reunião com Pence Ricardo Senra - @ricksenra Da BBC News Brasil em Washington
Mundo
Publicado em 09/04/2019

Não haverá ação militar dos EUA, do Brasil ou de nenhum outro país do Grupo de Lima para solucionar a crise na Venezuela, disse nesta segunda-feira em Washington o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão. O desfecho para a situação no país vizinho, no entanto, está "próximo", disse também Mourão.

"Nenhum dos nossos países vai intervir na Venezuela de forma militar. A intervenção que está sendo feita é política e econômica. A questão militar cabe aos venezuelanos", afirmou. "Essa tarefa é das Forças Armadas venezuelanas."

Questionado sobre quais seriam estes "nossos países", Mourão citou Brasil, EUA e o Grupo de Lima - fórum de articulação política criado em 2017 para acompanhar a situação venezuelana que reúne 14 países, incluindo Peru, Brasil, Colômbia, Argentina, México e Canadá.

As declarações foram dadas em entrevista coletiva na capital americana após reunião com o vice americano, Mike Pence.

A crise na Venezuela se agrava desde janeiro deste ano, quando o líder oposicionista Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino, acusando Nicolás Maduro de usurpar o poder por meio de eleições ilegítimas.

Estrangulamento

"Estrangulamento" das finanças do regime de Nicolás Maduro, foco em cubanos "que manejam a inteligência venezuelana", monitoramento da presença russa em Caracas e pressão sobre as forças armadas bolivarianas.

Em pouco menos de 30 minutos de entrevista coletiva, Mourão usou mais de uma vez o verbo estrangular quando se referiu à Venezuela.

"Principalmente a questão econômica está chegando num ponto de estrangular o pais", disse, em referência às sanções aplicadas pelo governo de Donald Trump à Venezuela - cujo principal destino de exportações de petróleo ainda são os EUA. "Este será o momento em que as forcas armadas terão condições de assumir o controle e abrir o caminho para a saída do governo Maduro."

A principal medida recente citada pelo vice brasileiro foi o anúncio feito pelo vice-presidente americano na última sexta feira de novas sanções contra navios e transportadoras de petróleo venezuelano para Cuba.

Manifestantes entraram em confronto com forças de segurança venezuelanas nas fronteiras da Colômbia e do BrasilDireito de imagemEPA
Image captionManifestantes entraram em confronto com forças de segurança venezuelanas nas fronteiras da Colômbia e do Brasil

"Vamos lembrar qual é a única renda que a Venezuela tem: é a renda de petróleo. Os apagões de ultimamente danificaram mais ainda a indústria petrolífera. Vocês têm que lembrar que o petróleo venezuelano é um petróleo pesado. Ele necessita ser bombardeado nos dutos com nafta para ficar menos viscoso e poder circular. Com o apagão, parece que isso ficou mais parado", prosseguiu.

As novas sanções americanas se destinam a 34 navios ligados à petroleira estatal venezuelana PDVSA e a duas transportadoras de petróleo. A Venezuela envia diariamente quase 60 mil barris de petróleo para Cuba - aproximadamente 70% do consumo da ilha.

Cuba

A medida afeta tanto a Venezuela quanto Cuba, considerados pelos EUA como parte de um eixo inimigo junto à Nicarágua.

Em novembro, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, classificou os três países como "tróica da tirania".

"A última medida já tomada pelos americanos está na questão dos navios que levam petróleo para Cuba. Isso vai estrangular mais ainda", disse Mourão.

Em comunicado enviado à imprensa, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que "Cuba tem sido uma força alimentando o mergulho da Venezuela na crise".

O chanceler cubano, Bruno Rodriguez, reagiu pelo Twitter e denunciou o uso de "mentiras ultrajantes" contra Cuba.

"Sessenta anos de agressão imperialista não quebraram a vontade dos cubanos", escreveu. "As novas ações não terão sucesso."

Mourão também foi questionado sobre uma possível mudança de posicionamento do Brasil em relação a Cuba.

"Há participação de um grande número de cubanos que manejam a inteligência venezuelana e também são responsáveis pelo controle das milícias", disse o brasileiro.

"Creio que é tarefa das Forças Armadas da Venezuela fazer um trabalho de neutralização dessas milícias e coletivos para que se possa chegar a uma solução para a saída de Maduro."

O vice-presidente refutou uma medida direta do Brasil contra a ilha socialista.

"Creio que nao é uma questão de pressão sobre Cuba", disse.

Rússia

No fim de março, a chegada de dois aviões da Força Aérea russa carregados de militares e armamentos à Venezuela, gerou uma série de especulações e reacendeu o temor de uma escalada da tensão internacional.

A presença militar russa na Venezuela foi alvo de protestos do secretário de Estado americano, Mike Pompeo - os EUA foram os primeiros a reconhecerem Guaidó como presidente interino.

Questionado, Mourão afirmou que a presença russa "obviamente nos preocupa".

"(Precisamos) saber qual é a extensão da presença militar da Rúsia num dos países vizinhos, uma vez que a russia é uma potencia externa ao nosso subcontinente ", disse.

Mourão, no entanto, prosseguiu sua avaliação em tom diplomático.

"Mas temos boas relações com a Rússia e vejo que a Rússia está tentando proteger seus interesses uma vez que esta lá", disse.

O vice-presidente dos EUA, no entanto, escolheu perspectiva mais agressiva quando comentou o assunto.

Em conversa por telefone com Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores de Moscou, Pompeo afirmou que os EUA"não ficariam de braços cruzados enquanto a Rússia exacerbava as tensões na Venezuela".

A colaboração militar da Rússia com a Venezuela chavista não é novidade.

Os russos foram, junto com os chineses, os principais fornecedores de material bélico para Caracas desde a Revolução Bolivariana, liderada por Hugo Chávez, quando chegou ao poder em 1999.

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