A cineastra foi a primeira mulher negra brasileira a ter um longa na lista de sugestão ao Oscar, no ano de 2019, com o documentário “O Caso do Homem Errado”
Uma capa da revista Marie Claire, divulgada recentemente, gerou revolta ao apresentar apenas mulheres brancas como diretoras por trás de grandes sucessos. O Notícia Preta publicou uma reportagem sobre a ausência de mulheres negras nas produções nacionais de alta bilheteria. Conversamos com a cineasta gaúcha, residente em Salvador, Camila de Moraes. Segundo ela, a falta de representatividade reflete o funcionamento da indústria cinematográfica brasileira.
“Se nós, profissionais negros, não estamos nas superproduções, que têm acesso aos recursos tanto para produção quanto para a pós-produção, com certeza não estaremos na competição para atingir altas bilheterias. Colocar um filme em circuito comercial tem um custo alto e infelizmente as nossas produções cinematográficas ainda não chegaram nesse patamar. Nossas produções precisam ter recursos financeiros suficientes, aí sim iremos mudar as estatísticas do audiovisual brasileiro”, diz Camila.
Atuando no mercado audiovisual há 12 anos, ela dirigiu o curta-metragem, “A Escrita do Seu Corpo” (2016), que trata sobre as questões de identidade racial e de gênero. Em 2017, lançou o documentário “O Caso do Homem Errado”, cotado para representar o Brasil na categoria de ‘Melhor Filme Estrangeiro’, no Oscar 2019. Tornando Camila de Moraes a primeira mulher negra brasileira a ter um longa-metragem na lista da premiação.
Após 34 anos, em 2018, a diretora foi a segunda mulher negra a entrar em circuito comercial, do Brasil, com um filme longa-metragem. Ela também participou de outras produções e afirma que ao longo de sua carreira já sofreu racismo em diversas situações. Contudo, faz questão de ressaltar que tais episódios não a fizeram parar.
“Essas situações não conseguiram fazer com que o nosso trabalho parasse. Pelo contrário, encontramos aliados na caminhada e seguimos em frente, pois sabemos que juntos somos mais fortes e estamos aqui, plantamos para mudar a indústria cinematográfica brasileira. Nenhum passo atrás. O impulso são os nossos punhos”, conta a cineasta.
Atualmente, Camila trabalha na série de ficção ‘Nós Somos Pares’, uma narrativa sobre seis mulheres negras, suas relações de amizades e amores. Ter mulheres negras na direção de filmes pode gerar uma mudança na perspectiva, no olhar, elenco, equipes e consequentemente alterar a estrutura do audiovisual no Brasil.
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