Até sexta-feira (27), data do mais recente levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), foram 980 pontos atingidos pelas manchas de óleo. A contaminação atingiu todos os nove estados do Nordeste, além de praias do Espírito Santo e Rio de Janeiro.
A partir de novembro, o Ibama mudou a metodologia para registrar os locais e passou a considerar áreas menores de costa para registrar os avistamentos dos vestígios de óleo, isso fez com que houvesse um crescimento no número de locais atingidos em novembro e dezembro.
Óleo em maior quantidade
Em vídeos divulgados nas redes sociais, pescadores cearenses mostram o acúmulo do material misturado a pedras e algas, na orla do município. "Já tinha aparecido no início de outubro, só que era em pouquíssima quantidade. Dessa vez tem mais", explica a Rede de Turismo Comunitário de Caetanos de Cima.
A comunidade de Caetanos de Cima é formada por pescadores e pescadoras artesanais, agricultores e agricultoras tradicionais campesinos. Atualmente, cerca de 200 pessoas vivem na localidade, com atividades de pesca artesanal, agricultura camponesa, turismo comunitário e manifestações culturais. A mancha de óleo afeta diretamente a produtividade do local.
A Marinha do Brasil informou por meio de nota que amostras do material foram enviadas para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), para verificar o tipo do óleo encontrado na praia cearense.
"Participam do recolhimento dos vestígios de óleo militares da MB [Marinha do Brasil], membros do Ibama, da Defesa Civil e voluntários, sob coordenação do [Grupo de Acompanhamento e Avaliação]. Mais militares estão sendo mobilizados para limpeza das áreas não habitadas das praias", afirma a Marinha.
Praias do Ceará voltam a ter manchas de óleo depois de dois meses — Foto: Arquivo pessoal
O professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rivelino Cavalcante, destaca que o reaparecimento do material evidencia uma grande quantidade de óleo ainda à deriva no oceano. “Já era para ele estar mais decomposto, no nível de micropartículas, ou até no nível molecular, no tamanho que não seria visto tão fácil a olho nu. Isso evidencia que há muito material”, afirma.
Além disso, segundo o especialista, o material voltou a aparecer por conta do fenômeno “swell”, como é conhecida a ressaca do mar. “Provavelmente, esse material está sendo remobilizado. Ele pode estar no fundo do assoalho oceânico. Nossa plataforma é carbonácea, ela tende a precipitar esse material, ou seja, ele fica no fundo por conta do carbonato. Depois, com esse evento extremo de ressaca, ele suspende o material, que volta a aparecer na praia”, ressalta.
No início deste mês, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) informou que manterá a posição de alerta para o risco de aparecimento de novas manchas de óleo no litoral até o mês de março. A medida ocorre justamente pela maior frequência do swell na área do Oceano Atlântico que corresponde ao Nordeste, nesta época do ano.
Conforme o mais recente mapa das áreas com localidades oleadas no litoral brasileiro, elaborada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em 27 de dezembro, três pontos do Ceará apresentavam “vestígios” com até 10% de contaminação por óleo: Praia do Cumbuco, em Caucaia; Lagoinha, em Paraipaba; e Pontal do Maceió, em Fortim. Desde 30 de agosto, outras 38 localidades também apresentaram manchas, mas não na última revisita dos órgãos ambientais.