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Soul Brasil - Uma Breve História
Música
Publicado em 09/04/2018

Soul Brasil - Uma Breve História


A introdução

Com apenas dezessete anos de idade Tim Maia muda–se para os Estados Unidos, para estudar cinema, após três anos, depois de ter sido preso várias vezes, é deportado para o Brasil. Durante o tempo que o jovem passou no país participou de alguns conjuntos e contabiliza como lucro ter aprendido os ritmos norte americanos. Assim de volta ao país foi o responsável pela introdução da música soul aqui, e se tornou também nosso principal compositor e intérprete do gênero.

Soul Music Brasil

Na década de 60, antes mesmo da chegada de Tim Maia podemos dizer que já se fazia aqui uma música com traços do balanço norte americano, mas não sólida como a que viria um pouco adiante. Jorge Ben já havia gravado algumas músicas (Agora Ninguém Mais Chora, Negro É Lindo, Que Nega É Essa) e também Wilson Simonal em sua fase Pilantragem (caso de Mamãe Passou Açúcar em Mim, País Tropical, Tributo a Martin Luther King).

Tim Maia de volta ao país em 1963 começa a se destacar com sua nova música, e em 1969 é convidado por Elis Regina para gravarem “These Are The Songs”, com sua música no disco Em Pleno Verão, de Elis Regina, recebe um convite também para gravar seu primeiro disco solo. Podemos também lembrar da década 60, o grupo Bossa Trio (misturavam samba e soul), que o paraibano Cassiano participava tocando violão. Em 1970 Tim Maia grava seu primeiro disco solo, Tim Maia – Colecionador, que rendeu alguns dos maiores sucessos do ano e músicas que ficariam gravadas até hoje, algumas delas são: Azul da Cor do Mar, o baião misturado com soul Coroné Antônio Bento e Primavera, canção de Cassiano e Silvio Rachoel. Em 1971 Cassiano também começa sua carreira solo e grava o LP Cassiano, Imagem e Som. Nesta década a turma da soul music também teve destaque nos festivais, Toni Tornado na fase nacional do V Festival Internacional da Canção, obteve a vitória com a música “BR-3”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar. Tim Maia iria década adentro emplacando alguns sucessos, como: Não Quero Dinheiro (só quero amar), Réu Confesso e Gostava Tanto de Você. “Já Cassiano lançou músicas como “A Lua e Eu” e Coleção”. Completando a santíssima trindade do soul brasileiro, aparece o baiano Hyldon, que em 1975 lança seu primeiro disco, “Na Rua Na Chuva Na Fazenda”, dois de seus sucessos são gravados até hoje, a canção homônima e As dores do Mundo. Os três lançaram juntos o disco Velhos Camaradas, em dois volumes, que contém alguns dos sucessos de suas carreiras.

Ainda nos anos 70, e o Funk?

A turma do soul brazuca dos 70, quase toda do Rio de Janeiro, já estava influenciada pelo movimento black power e pelas cores mais fortes do funk. Surgiu assim, então, nomes como o do pernambucano Paulo Diniz com sua música “I Want To Go Back To Bahia”, o Gerson King Combo, que era ex-dançarino, e com as músicas “Mandamentos Black” e “O Rei Morreu (Viva o Rei)” se tornou uma espécie de James Brown brasileiro, Carlos Dafé (Pra que Vou Recordar o que Chorei), Robson Jorge e Miguel de Deus (do disco Black Soul Brothers).

Até compositores da MPB de gêneros como a bossa nova, se mostravam influenciados pelo funk-soul, Marcos Valle com “Black Is Beautiful” e “Mentira”, o samba soul de Jorge Ben Jor, Bebeto e Trio Mocotó. E até mesmo Ivan Lins, que no começo de sua carreira mostrou um acento soul em sua música, como é o caso de “O Amor é Meu País”.

Mas para o final da década, com o fenômeno dos bailes black no subúrbio carioca, surge um movimento que ficou conhecido como “Black Rio”, surgiu também um importante conjunto batizado com o nome do movimento, interessados em dar um toque de gafieira a estilos como o funk, soul e jazz, a Banda Black Rio estréia em 1977, com o LP Maria Fumaça.

Uma versão americanizada da black music, feita para as pistas dos clubes e para o consumo de massa, começa a substituir o funk. Era a discoteca, de Dona Summer, Chic e Earth Wind & Fire, que logo teve sua melhor tradução aqui com as Frenéticas, atrizes e cantoras que foram contratadas pelo produtor e compositor Nelson Motta para trabalharem em sua casa Dancin’ Days. Com o título da casa surgiu uma novela, cuja música tema era cantada pelo grupo, assim detonou a onda disco no Brasil. Outra diva do disco aqui foi a Lady Zu (Zuleide), paulistana da capital, estourou com a música “A Noite Vai Chegar”. E neste embalo embarcaram Gilberto Gil (com o LP Realce) e Tim Maia (com Tim Maia Disco Clube, que continha a música “Sossego”). O produtor e tecladista Lincoln Olivetti foi o mentor do funk pop de Realce e outros discos da MPB, gravou também com Robson Jorge a música Aleluia, que foi grande sucesso nas rádios.

Os Anos 80

Indo na direção contrária do chamado Rock Brasil, Cláudio Zóli funda o grupo Brylho (que tinha em sua formação o guitarrista Paulo Zdanowisk, parceiro de Cassiano), lançou em 1982 seu primeiro disco, com a canção “Noite do Prazer”, que foi originalmente gravada em uma versão reggae soul, depois no ano seguinte o grupo lança seu segundo trabalho e acaba se separando. Em 1986 Cláudio Zóli começa sua carreira solo, com muitos sucessos sempre defendendo a “soul music nacional”.
Nesta década Tim Maia continuou lançando clássicos, com algumas músicas mais dançantes, como é o caso de “Descobridor dos Sete Mares” e “Do Leme ao Pontal”, e também músicas mais românticas, “Telefone” e “Me Dê Motivo”.
Sandra de Sá também foi revelação do gênero nesta época, no começo da década ela ganhou projeção nacional ao defender a música “Demônio Colorido”, no Festival MPB-80 da TV Globo. Também grava seu primeiro disco, a partir daí então, seguiram os sucessos, “Olhos Coloridos”, “Enredo de Meu Samba” (um samba soul de Dona Ivone Lara e Jorge Aragão), Joga Fora (de Michael Sullivan e Paulo Massadas) e o antológico dueto com Tim Maia na música “Vale Tudo”.

O Novo Capítulo

Com apenas 16 anos, o jovem Ed Motta sobrinho de Tim Maia,  grava em 1988 o disco ED Motta & Conexão Japeri,  que já rendeu sucessos certeiros, como “Manuel” e “Vamos Dançar”.  Afastado do conjunto Japeri, lança seu segundo disco, Um Contrato Com Deus.
Ed Motta começou a sofisticar sua música, morou um tempo em Nova Yorque, e lá começou a se aproximar da música brasileira, que ele costumava rejeitar.
Já nos anos 90,  Ed teve grande importância, levou adiante a música trazida pelo seu tio, mas uma série de nomes não deixaram que ficasse como monopólio. Sandra de Sá lançou o disco tributo a Tim, Eu Sempre Fui Sincero e Você Sabe Muito Bem, Conexão Japeri gravou dois discos sem Ed, Edmon Costa, Zé Ricardo, As Sublimes, Ebony Vox, Lúci e Léo Maia (filho de Tim Maia).
Participaram de mais uma vertente, Lulu Santos, a partir de 1994, com o disco Assim Caminha a Humanidade, a  cantora Fernanda Abreu (ex-Blitz), que ficou conhecida como uma espécie de rainha do “samba – funk – disco”. Em São Paulo, os artistas do rap, também se influenciaram, alguns como o Sampa Crew, Thaíde & DJ Hum e Bennê.

De família, a Nova Geração

Podemos destacar também João Marcelo Bôscoli e Pedro Camargo Mariano (filhos de Elis Regina), Max de Castro (filho de Wilson Simonal), Jairzinho (filho de Jair Rodrigues) e Léo Maia (herdeiro musical de Tim).

Novo Funk - Temos ainda uma nova versão do funk, conhecida como funk carioca ou funk do morro, enquanto o funk carioca ia de encontro com as desigualdades da vida, este novo funk explora em seus ritmos e letras, a sensualidade e erotismo.

Soul Music – criado pelos negros dos Estados Unidos no final dos anos 50 e começo da década de 60, nasceu do rhythm and blues e gospel, A música soul geralmente é executada por cantores individuais acompanhados de uma banda composta de uma forte seção rítmica e de metais.

*texto feito em pedido do jornal "Cidade de Jacutinga", em março de 2008, época em que faziam 10 anos da morte de Tim Maia, o eterno "soulman" brasileiro. 

Rovilson Jr.

 

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